À primeira vista, tudo parece ter mudado. Mas quando se olha mais de perto o que está a acontecer nesta guerra contra um vírus, tudo é basicamente o mesmo de sempre.

Como se deve entender a guerra contra o vírus? Como sempre: o estado como um ajudante em tempos de necessidade.
A guerra começou por ser contada pelos media, em nome dos interesses políticos mais elevados, sobre como ver o que se passa.

Como de costume, os políticos com os seus meios de comunicação social colocam toda a atenção no vírus e, acima de tudo, no seu programa de guerra contra o vírus, de tal maneira que agora todos sabem como se deve ver tudo: deve ver-se como eles veem.
E assim:

É muito importante fazer as perguntas certas, aquelas que as elites acham que não devem ser feitas, para que sejam retiradas ideias inconvenientes de circulação desde o início: primeiro, há que saber porque é que toda esta porcaria do vírus realmente está a acontecer.

Esta pergunta é crítica e depara imediatamente com os políticos, os seus departamentos de saúde e o mundo dos negócios, que não consideraram suficientemente lucrativa a produção preventiva de um medicamento quando o último vírus foi vencido. Com o desaparecimento dos efeitos malignos do vírus, a garantia de bons negócios desapareceu e os cientistas que estavam a caminho de desenvolver um medicamento preventivamente eficaz foram mandados para casa por causa disso. Por outro lado, isto acontecer não é nada fora do normal: quando as curvas de números de doenças dos cidadãos crescem, os valores das ações da indústria de comprimidos também aumentam. A saúde é um negócio e é um bom negócio, porque o Estado usa todo o seu poder para torná-la um bom negócio.

A pergunta seguinte certa a ser feita é porque é que mesmo um estado – com é o caso dos principais estados do mundo – que fazem enormes receitas tributárias e têm dinheiro sem fim, porque é que tais estados não investem em sistemas de saúde inteligentes, capazes de também estarem preparados para lidar com emergências. Esta questão também foi retirada de circulação desde o início, porque a resposta a esta pergunta também não faz os políticos e a economia ficarem bem na fotografia: o sistema de saúde em todo o mundo foi instituído de tal maneira que os maiores negócios podem ser realizados com o menor investimento possível. Por isso todas as boas perguntas estão bloqueadas pelos políticos, o que foi feito para economizar custos e orientar todo o sistema de saúde para servir esse tipo de especulação. A produção de medicamentos deve ser rentável, ou seja, não há mais antibióticos, por exemplo, então fecham-se os hospitais e os departamentos, cortando todo o tipo de operações que não produzem lucro, tudo bem coordenado entre os fabricantes de produtos médicos e os hospitais privatizados, e com os médicos com interesses nos dividendos de fabricantes e hospitais. Aquilo que noutros lugares se chama máfia, a rede de empresários caritativos chama “o nosso sistema de saúde”, que agora é preciso salvar no interesse de todos nós.

É por isso que temos este sistema de saúde que, quando não é usado para fins de lucro e é usado apenas para tratamentos de vírus comuns nas massas, geme e estrebucha mais do que todos os pacientes, porque ele não está a fazer negócio. É, portanto, esse sistema de saúde que deve ser protegido de muitos pacientes cujo tratamento nada dá a ganhar um sistema de saúde que, acima de tudo, necessita de assistência estatal. Toda a gente sabe como é isso: veja abaixo.

Depois de pensar como toda esta porcaria pode acontecer, com o vírus, depois do remédio inexistente e do sistema de saúde que não foi criado para cuidar de pandemias, depois de todas essas perguntas, tudo isso poderia ter algo a ver com política e economia, com os que decidem sobre tudo e qualquer coisa, mas não querem saber de nada; não querem saber se algo corre mal. Se tais pensamentos foram evitados com a proibição de os desenvolver, agora a política preparou o caminho para si mesma se poder apresentar como um ajudante em situação de necessidade e como um senhor da guerra que não pode ser parado por nada nem por ninguém, levando seus súditos para o campo de batalha, usando a força necessária. A impressão pode ser enganosa, mas alguns políticos têm a impressão de que a guerra declarada também é uma oportunidade de finalmente se apresentarem como líderes das suas nações. Há margem de manobra para diferentes interpretações sobre como é a condução dos estados, mais como ajudante ou mais como comandante, mais Merkel ou mais Trump.

O estado, primeiro colocou os cidadãos nesta grave situação com sua política de saúde e cuidados através de um sistema de saúde economicamente rentável. Depois, apresenta-se, como do costume, como o grande ajudante dos cidadãos. É isso que os políticos fazem com todos os problemas que apresentam aos cidadãos. As autoridades públicas estão sempre a apresentar-se como ajudantes por necessidade, situações para que elas próprias criaram as condições de existência. Quem mais, exceto aqueles que decidem sobre tudo e qualquer coisa, são responsáveis por toda e qualquer necessidade dos seus povos? Às vezes, a divisão do trabalho entre negócios e política ajuda. Acontece isso com os desempregados. Mas só existem desempregados porque a política, que preparou todos os regulamentos para a economia, quando o trabalho não compensa, permite os empresários despedirem os trabalhadores sem problemas. Ajuda-os fornecendo-lhes dinheiro para o desemprego a partir de cofres que, aliás, as pessoas pagam a si mesmas enquanto trabalham. O estado apresenta isso como se o Estado estivesse a ajudar os desempregados, na sua miséria. É assim que funciona em toda a parte. Da mesma forma, o tratamento de pessoas doentes que foram infectadas pelo vírus é apresentado como ajuda para pessoas doentes e saudáveis, que realmente entraram nessa “guerra” contra o vírus por causa das políticas de saúde e da falta de remédios úteis para o efeito.
Aproveitam a ocasião para se apresentarem como mandões, o que, para os políticos, não é uma jogada repugnante de auto-promoção, mas é exatamente o que os políticos pensam que os distingue, nas suas qualidades de liderança. De facto, essa aparência encaixa-se bem no objetivo deste trabalho de luta contra o vírus, e em todos os outros casos de política.

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1 comentário

  1. É realmente verdade que os estados se colocam na posição de serem, ao mesmo tempo, nossos ajudantes e nossos comandantes. É realmente verdade que a comunicação social vive de nos encher a cabeça com as perguntas que ela entende serem certas e censura todas as perguntas que lhe são inconvenientes.
    Tudo isso não explica o efeito de poder que permite que tais estratégias funcionam. Não explica a repugnância que o cidadão sente quando são feitas as perguntas que aqui, neste texto do Michael Kuhn, são consideradas as perguntas correctas.
    A unanimidade da comunicação social e o apoio social efectivo às políticas duras – em tempo de vírus e noutros tempos – não se podem explicar apenas pelos seus efeitos, já que, como muito bem aqui se escreve, os seus efeitos são catastróficos.
    O problema, então, pode ser: quando é que efeitos catastróficos das políticas capitalistas resultam em libertação do pensamento, da imaginação, das vítimas dessas políticas, abrindo-se uma brecha a práticas sociais diferentes?

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